Coro que sonha junto

"Sonho que se canta junto" – o título do mais recente espetáculo do Coro Experimental MT, bolado pelo músico Jefferson Neves, não poderia ser mais adequado.

Coro que sonha junto

"Sonho que se canta junto" – o título do mais recente espetáculo do Coro Experimental MT, bolado pelo músico Jefferson Neves, não poderia ser mais adequado.

Só quem faz parte do CEMT tem dimensão do esforço coletivo que uma produção como esta exige. O roteiro foi desenvolvido, editado, reeditado por Jefferson Neves, diretor artístico, arranjador, regente e fundador do grupo junto com Tuanny Godoi. O cenário foi concebido pela artista visual Rosylene Pinto, que integra o naipe das sopranos desde a criação do coral. A concepção dos figurinos é obra do fashionista e designer Luiz Pita (do naipe dos baixos); a iluminação foi criada por outro baixo, Vítor Falcão. A divulgação ficou a cargo de coralistas com experiência em marketing digital e assessoria de imprensa, e todas as ações contam com a participação de integrantes do CEMT.

Quem entra no Coro Experimental logo descobre que não basta cantar para fazer parte do grupo. Nem todos ficam – por falta de tempo ou por não se adaptarem a essa proposta -, mas os que permanecem acabam descobrindo uma certa magia e criam uma ligação muito especial com os regentes e demais cantores.

Tudo isso faz parte da história do CEMT, criado em abril de 2017 para acompanhar a Orquestra do Estado de Mato Grosso no concerto em homenagem aos 130 anos de Heitor Villa-Lobos. Mas o Coro já nasceu independente, irreverente, experimental, e nem o fim da parceria com o Governo do Estado conseguiu encerrar sua trajetória.

Com o tempo surgiram parcerias como a que o CEMT mantém com a Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer (Secel/MT), que permite que os ensaios aconteçam no Palácio da Instrução, e novas formas de organização para dar sustentação financeira ao coral. Mesmo assim o Coro vive na corda bamba e cada espetáculo exige um esforço absurdo de coralistas e, principalmente, de Jefferson Neves e Tuanny Godoi.

Nosso último sonho foi encenado no último dia 6, no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, com grande sucesso de público, mas será que conseguiremos apresentá-lo novamente, alcançar novos espectadores?

São questões que permanecem em nossas cabeças sonhadoras, mas hoje o que quero destacar é a originalidade do repertório escolhido, que, na minha opinião, é uma das características mais marcantes do CEMT. Algumas pessoas até podem questionar a quantidade de canções quase desconhecidas, mas é isso que torna único o CEMT. O fato de contarmos com nosso próprio arranjador é um luxo e permite que ele nos apresente canções inesperadas como "Noite Severina" (de autoria de Lula Queiroga e Pedro Luís), "Acalanto pra você" (de autoria de Ná Ozzetti, Edith Derdyk e Manoel Luiz Brites Pacheco Prates), "Noite Torta" (de Itamar Assunção) e "Ciganos do espaço" (de Flávio Cardoso e Bruno Olivieri). São preciosidades que brilharam no espetáculo "Sonho que se canta junto" ao lado de composições mais conhecidas como "Olha pro céu", "A lua girou" e "Lua soberana". E até sambas famosos como "Sonho meu" (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho) ganharam uma versão original no arranjo assinado por Jefferson. Sem falar no medley ("Pop Dreams") com trechos de sucessos de estrelas como Lady Gaga, Kate Perry e Bruno Mars.

Cuiabá é uma capital muito musical e, apesar da aparente preponderância do sertanejo, tem espaço para vários gêneros: samba, pop, clássicos da música nacional e internacional. O CEMT traz toda essa miscelânea para o palco e, a cada espetáculo, busca surpreender o público. A gente gosta de experimentar novos sabores, mesmo que às vezes a novidade nos apresente dificuldades que assustam até os mais calejados.

E assim seguimos … Se você nunca assistiu a uma apresentação do CEMT, não perca a próxima oportunidade. O canto coral é uma forma incrível de expressão artística e o CEMT está fazendo história – de "Trenzinho Caipira" de Villa-Lobos (em junho de 2017) a "Estrela, estrela" de Vítor Ramil (em junho de 2024) -, realizando assim o sonho de cantar de muita gente.

Martha Baptista é jornalista e integrante do Coro Experimental MT desde 2017

Foto: Junior Silgueiro

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online