Ex-BCs elogiam atas do Copom, mas criticam política fiscal de Lula

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, questionou ex-integrantes da autoridade monetária sobre os comunicados do Copom (Comitê de Política Monetária) na Conferência Anual do Banco Central do Brasil nesta 6ª feira (17.

Foto: Seu Dinheiro

Foto: Seu Dinheiro

O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, questionou ex-integrantes da autoridade monetária sobre os comunicados do Copom (Comitê de Política Monetária) na Conferência Anual do Banco Central do Brasil nesta 6ª feira (17.mai.2024).

Pérsio Arida (1995), Gustavo Franco (1997-1999), Gustavo Loyola (1992-1993) e Pedro Malan (1993-1995) elogiaram o avanço da comunicação do comitê. Por outro lado, criticaram a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O evento celebrou os 30 anos do Plano Real, o programa um plano econômico para estabilizar a inflação do Brasil.

Assista:

O economista Gustavo Loyola avalia que houve uma evolução muito grande na comunicação e transparência do Banco Central. “Na minha época de presidente do Banco Central pela 1ª vez, tinha um dado que era segredo de Estado: as reservas bancárias. Hoje, o grau de transparência do Banco Central é muito maior", afirmou.

O ex-presidente do BC afirmou que o problema da comunicação é separar o que é "mensagem" e o que é "ruído". "Se você tenta comunicar demais, insere ruídos", declarou. Ele defendeu que a comunicação do BC tenha que priorizar os "sinais".

Segundo Loyola, as redes sociais tornaram públicos debates que eram antes feitas no âmbito privado. Ele defendeu que o grau de comunicação vai aumentando, mas que há certos tipos de discussões que "tem sérias dúvidas se devem ser colocadas a público, pelo menos de maneira imediata".

"São discussões que devem ser feitas de maneira mais fechada, até para a riqueza da discussão. O próprio fato de ser um debate público prejudica a qualidade da decisão", disse o ex-presidente do BC. Loyola elogiou ainda a disponibilidade de dados coletados e de outras fontes de informações para o acesso da sociedade.

TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO

O economista Pérsio Arida afirmou que haverá uma "enorme modificação na forma de comunicação". Disse que haverá modelos de inteligência artificial que vão prever o comportamento da inflação mantida a atual taxa de juros e a curva longa dos juros.

"É uma questão de tempo. Um ano, ou dois anos. Não é muito mais do que isso. Acho que a comunicação do Banco Central vai ser a discordância ou concordância com o modelo de inteligência artificial", avalia.

Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, disse que a comunicação na década de 1990 era como um "jazz", no improviso.

"Não tínhamos as regras de hoje. O que vocês fazem hoje é mais música clássica", disse a Campos Neto. "Não deve haver improviso na comunicação, o que dialoga com outro assunto, que vai ficando mais sério, que é o da colegialidade e da unidade da diretoria e do Copom", declarou Franco.

Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BC, disse que houve avanço "extraordinário" na comunicação. Afirmou que há os comunicados do Copom, as atas, os Relatórios Trimestrais de Inflação e também outros documentos oficiais para dar transparência ao trabalho do BC.
Malan disse que uma política fiscal tida como insustentável pode tornar ineficaz um regime de metas de inflação e colocar em xeque a estabilidade macroeconômica. Afirmou que o objetivo do BC é ancorar as expectativas futuras com a mensagem de que a "intenção de estabilizar é forte e será seguida com tenacidade".

POLÍTICA FISCAL

Malan declarou que uma sociedade e um governo que não tem compromisso firme encontrará formas de expandir os seus gastos independentemente do estatuto jurídico do BC. Malan defendeu ainda que o governo precisa estabelecer prioridades. Ele disse que a responsabilidade social é compatível com a fiscal.

"É perfeitamente possível caminhar ao longo do tempo para compatibilizar esses dois objetivos. O que exige são duas coisas que deveriam estar presente no debate: a definição clara de prioridade e […] avaliação de programas e de resultados", disse. "Quanto tudo é prioritário, nada é prioritário", completou o ex-ministro.

Pérsio Arida disse que Lula foi "arqui-inimigo" do Plano Real, enquanto o povo brasileiro "endossou" o programa. O ex-presidente do BC declarou que Lula inventou a "retórica de herança maldita".

"Nosso tripé macroeconômico é manco hoje em dia, porque a perna fiscal sofreu uma longa e contínua deterioração e as perspectivas não são boas", disse. "Existe uma esperança que 2026 e 2027 tenhamos uma postura fiscal radicalmente diversa da atual, mas é difícil imaginar um programa de estabilização que possa se sustentar com ameaça populista e déficits crescentes por um período longo de tempo", acrescentou Arida.

HOMENAGEM À CARLOS LANGONI

O Banco Central entregou uma medalha em homenagem ao ex-presidente da autoridade monetária Carlos Langoni, que morreu em 2021. Em discurso, Campos Neto traçou os fatos histórico de Langoni à frente do BC, como a negociação da dívida externa e a criação do sistema atual da Selic.