Autores abordam racismo e intolerância religiosa em obra de ficção

Obra conta com a ilustração do artista Robson Barbosa, o Ilustrablack.

Autores abordam racismo e intolerância religiosa em obra de ficção
Obra conta com a ilustração do artista Robson Barbosa, o Ilustrablack.

Após perder a guarda da filha Luana, por uma denúncia de maus tratos no rito de batismo da adolescente, a candomblecista Maria se vê desesperada diante de um sistema que ignora a sua existência. É assim que tem início a obra de estreia dos amigos Eberson Terra e Gustavo Nascimento no mundo dos romances. Crítico e real, "O nome dela é Luana", lançado pela Editora Flyve, joga luz sobre questões profundas de racismo, intolerância religiosa e corrupção institucional.

O livro é inspirado em um episódio que ecoou nos noticiários nacionais em 2020. Há menos de quatro anos, uma mãe de Araçatuba, no interior de São Paulo, perdeu a guarda da filha de 12 anos após a adolescente passar por um ritual de iniciação no candomblé, que envolve raspar a cabeça dos novos adeptos. A ação que levou à separação de mãe e filha foi movida pelo Conselho Tutelar, a partir da denúncia de uma senhora evangélica, a avó da menina.

Como conta um dos autores, a frequência com que casos semelhantes ocorrem no Brasil os levou a reconhecer a importância de abordar o tema na obra. "Tanto o caso real que nos inspirou quanto a trama se desenrolam no estado de São Paulo, mas situações como essa se repetem por todo o Brasil inúmeras vezes. No ano passado, por exemplo, isso aconteceu em minha própria cidade, Campo Grande [MS]. Como já estávamos discutindo esse assunto, foi fácil transferir para o papel o que estávamos pensando", afirma Eberson Terra, também autor dos livros não-ficcionais "Sabático" e "Carreiras Exponenciais".

A parceria com Gustavo, que é jornalista, nasceu em Cuiabá. Ambos moravam em Mato Grosso quando se conheceram. A experiência de escrever em conjunto exigiu organização e sintonia, resultando na conclusão da obra em um período curto de tempo. "Nós conseguimos roteirizar os principais pontos e como nós gostaríamos de abordá-los. Depois disso, nós fizemos a divisão dos capítulos para que cada parte fosse escrita e uma revisão final para pontos que poderiam ser alterados, que faziam mais sentido para a história. Nós sabíamos de maneira muito clara de onde partir. Escrevemos o livro todo em 1 mês e meio", conta Nascimento.

Para Eberson, foi importante que Gustavo assumisse as passagens mais duras da história. "Por uma questão do contexto da história, entendemos que o Gustavo, por ser um homem negro, tinha o direito de escrever determinados momentos. Esse foi um ponto importante também para essa divisão da escrita. Como pessoa branca, tenho empatia, mas nunca sofri racismo. Então, nas parte mais fortes do livro, em que há uma pessoa preta falando, sentimos que seria bom ser o Gustavo", relembra.

"Essa obra reflete muito o que pensamos. De como lidar com tudo isso. Muitas pessoas têm um entendimento equivocado de lugar de fala, como se só quem viveu algo pudesse falar sobre. Não é isso que a Djamila Ribeiro escreveu quando ela explicou o conceito. Eu falo no livro no lugar de um homem preto, que é filho de mulher preta e que tem muitas mulheres pretas na família que sofreram diversas violências. O Eberson, como um homem branco, também consegue contextualizar isso do seu local como tudo isso se relaciona. É uma oportunidade de trazer mais esse assunto para a reflexão", complementa Gustavo.

Já disponível da Amazon na versão digital, a obra impressa está agora em pré-venda no site da editora. A entrega está prevista para julho. Acesse neste link.

Conheça os autores

Gustavo Nascimento é jornalista graduado com mais de 10 anos de atuação e passagens por jornais impressos, sites de notícias e assessorias de comunicação de órgãos públicos e também de instituições do terceiro setor. Atualmente, coordenador de projetos em uma organização que atua em prol de causas para melhorar o mundo. Faixa preta de jiu jitsu, dedica as horas vagas a ensinar e aprender os caminhos da arte suave.

Eberson Terra é executivo da área da Educação e um dos Top Voices do LinkedIn mais lidos no Brasil. Liderou times de mais de 2 mil pessoas e conquistou 10 prêmios nacionais pelas empresas que passou. Atualmente é consultor, mentor profissional e professor de pós-graduação. Autor dos livros Carreiras Exponenciais e Sabático pela editora Alta Books. Em 2022 ingressou na literatura fantástica tendo seus primeiros contos publicados em diversas antologias.