A ditadura e o mito da superioridade moral dos militares

A diferença principal entre os hermanos argentinos e os brasileiros é que eles não conseguem esquecer o passado e nós não conseguimos lembrar.

A ditadura e o mito da superioridade moral dos militares

A diferença principal entre os hermanos argentinos e os brasileiros é que eles não conseguem esquecer o passado e nós não conseguimos lembrar. A falta de memória é o caminho sempre perigoso para repetirmos os mesmos erros.

A extrema direita tenta negar a ditadura militar que dominou o país no passado recente, inclusive chamando o golpe armado de "revolução". Chega ser patético, entretanto, tentar negar a realidade: a matança de adversários políticos; a tortura; a censura; a abolição dos direitos e a farra da corrupção com os contratos públicos de obras faraônicas sem a mínima fiscalização. São fatos que formaram o contexto daqueles anos de chumbo. Para o ex-presidente Jair Bolsonaro, líder da extrema direita brasileira, com seu "espírito cristão" que comove seus seguidores crentes, a ditadura militar errou por ter matado pouco e seu herói declarado foi um coronel especialista em tortura. Para ele, os brasileiros mortos pela ditadura e os mortos pela Covid 19 durante o seu governo não são gente, são apenas números tratados com deboche e desprezo.

A esquerda com Lula de volta à presidência pisa em ovos. O atual presidente da República não quer lembrar da ditadura de ontem com receio de melindrar os generais de hoje. A tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023, que envolveu a participação de diversos oficiais militares, é o motivo para não fomentar um debate que, segundo os governistas receosos, estimularia a sanha radical dos bolsonaristas nas redes sociais. Parte da esquerda e parte da direita civilizada, no seu devido compromisso com a história, sabem que o esquecimento e a falta de debate fortalecem a manutenção do mal maior para a vida democrática brasileira: o mito da superioridade moral dos militares em relação aos civis.

Do Buraco da Memória, vale a pena lembrar a discussão sobre o mito que alimenta a extrema direita e atormenta a esquerda democrática.

– Não, definitivamente, os militares não são superiores aos civis;

– Não, os militares não são os tutores armados da vida política brasileira;

– Não, os militares não são a reserva moral da pátria;

– O Exército brasileiro é instituição de Estado, com o seu papel restrito à defesa do país. Fazer bem este papel é o que importa em uma democracia civil;

– Não há "democracia militar".

A seguir, o artigo escrito para o Blog do Noblat onde falo sobre o meu ensaio audiovisual científico apresentado no Congresso da IAMCR em Lyon, na França, em julho de 2023. Trato do mito da superioridade moral dos militares e da religiosidade tomada como instrumento político da extrema direita bolsonarista.

Assista: Cenas da extrema direita no Brasil (Por Pedro Pinto de Oliveira)