Lula e PT: força e fraqueza da polarização contra o bolsonarismo

O jornalista Josias de Souza, colunista do site UOL, fez uma análise sobre as declarações do presidente Lula sobre a polarização com Bolsonaro.

Lula e PT: força e fraqueza da polarização contra o bolsonarismo

O jornalista Josias de Souza, colunista do site UOL, fez uma análise sobre as declarações do presidente Lula sobre a polarização com Bolsonaro. O presidente da República acredita que a polarização é um bom negócio eleitoral. O jornalista argumenta e alerta que há, em contrapartida, danos para a imagem do PT:

Tomado pelas palavras, Lula tem dificuldades para compreender o desafio histórico que assedia o seu terceiro mandato. Ao eleger Bolsonaro, que chama de “figura”, como rival nas eleições municipais e declarar em entrevista que “a polarização é boa” para o país, o presidente revigora o antipetismo, combustível que mantém vivo o bolsonarismo.

O PT é um partido político que existe há mais de 40 anos num mercado eleitoral brasileiro que vive hoje uma realidade que afeta a própria democracia. O mercado eleitoral no Brasil foi tomado por um cipoal de siglas, meros arranjos de interesses de ocasião: siglas que alimentam e se alimentam do balcão de negócios da política a cada pleito. Esse diferencial, de ser efetivamente um partido político, é algo que em óbvio, historicamente, foi muito importante para o PT. Mas diluído neste caldo de siglas, o Partido dos Trabalhadores enfrenta agora outro contexto no qual a instituição partidária foi reduzida a pó pela cultura digital, pela força do poder econômico e a própria autorização legal para que o país chegasse a essa quantidade absurda de siglas.

A política partidária não existe como foi no passado. E vale até o exemplo: é PT contra bolsonarismo, porque a extrema direita brasileira não tem um partido político, como o Chega de Portugal ou o Vox, na Espanha. PL é nada, ou alguém, de outro lado vai chamar um bolsonarista de "pelista"?

Outra questão é, para além das aproximações, destacar a diferença entre petismo e lulismo. Os dois movimentos se confundem, mas existem condições particulares de existência que certamente tornam possível vê-los de forma independente. Por esta abordagem, é importante avaliar o quanto a polarização é boa para Lula e quanto pode ser boa para o PT. É certo que Lula ganha mais, vale examinar se o PT perde mais.

Do Buraco da Memória, destacamos as diferenças entre petismo e lulismo. André Singer, cientista político, professor da Universidade de São Paulo (USP) e porta-voz do primeiro governo Lula, afirma que o lulismo é um modelo político inventado pelo então presidente Lula em seu primeiro mandato. Singer é considerado o criador do termo lulismo, tendo sido usado em sua tese acadêmica e seus artigos analíticos durante a campanha para as eleições de 2002.

Esse modelo lulista promovia a mudança por meio da inclusão social das camadas mais pobres da sociedade (com medidas como Bolsa Família, valorização do salário mínimo e aumento do crédito consignado). Mas fazia isso sem adotar qualquer tipo de radicalização política contra o capital e as classes dominantes.

Em entrevista ao Instituto da Democracia, Singer afirma que a estratégia lulista foi possível por um tempo, entre outros motivos, por causa da habilidade política do presidente Lula e de condições econômicas favoráveis, que permitiam ao Brasil “oferecer uma margem de lucro ao capital e ao mesmo tempo fazer algumas concessões para as camadas populares”.

Singer afirma que o modelo lulista foi bem-sucedido ao garantir pleno emprego, aumento da renda e redução da desigualdade, da fome e da pobreza.

Por outro lado, por ser uma política de conciliação e acomodação, Singer avalia que o lulismo despolitizou e desmobilizou parcelas da sociedade que poderiam confrontar o que ele classifica como o desmonte de projetos lulistas a partir do impeachment de Dilma, em 2016.

Nas eleições municipais, o PT será alvo dos radicais, carregado pelo rótulo negativo, no desgaste promovido nas redes sociais pela extrema direita bolsonarista. Qual será a estratégia comunicativa do partido para esse enfretamento que, de modo voluntário, o presidente Lula estimula para pautar as eleições de prefeitos?