"Ouvir relatos de quem saiu do alcoolismo mostra uma luz no fim do túnel"

"Ouvir relatos de quem saiu do alcoolismo mostra uma luz no fim do túnel" (Foto: AA) Paulo Andrade [nome fictício] tinha cinco anos de idade quando teve contato com o álcool pela primeira vez.

"Ouvir relatos de quem saiu do alcoolismo mostra uma luz no fim do túnel" (Foto: AA)

Paulo Andrade [nome fictício] tinha cinco anos de idade quando teve contato com o álcool pela primeira vez. Era uma festa de aniversário da família e, em um breve momento de distração dos adultos, ele pegou uma garrafa de cerveja e bebeu por completo escondido nos fundos da casa. O episódio resultou em um coma alcoólico que o deixou desacordado por muitas horas. Dez anos depois, ele voltou a beber. Hoje, aos 70, ele relembra como começou ali uma longa batalha contra o alcoolismo.

"Eu bebia destilado, que é mais forte. E bebia frente às dificuldades da vida. Eu era tímido e bebia para ficar mais desprendido, falante e sociável. Eu não sabia dançar, mas bebia e dançava a noite inteira. É uma sensação de poder. Você só começa querer largar quando as coisas ruins são maiores que as coisas boas", relata.

Paulo é atualmente um dos membros do Alcoólicos Anônimos (AA) em Cuiabá, e já se mantém sóbrio por um longo período. A participação no grupo, uma irmandade de pessoas que compartilham, entre si, suas experiências a fim de resolverem seu problema comum e ajudarem outras a se recuperarem do alcoolismo, tem sido determinante para se manter afastado das bebidas.

Na capital, o grupo se reúne várias vezes por semana. Como explica Paulo, o único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. Também não há taxas ou mensalidades e a irmandade não está ligada a nenhuma religião, nenhum movimento político, ou qualquer organização ou instituição. "Nosso propósito primordial é mantermo-nos sóbrios e ajudarmos outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade", traz a descrição do grupo, disponível em seu site oficial.

O alcoolismo, muitas vezes visto como um estigma social, é uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Recentemente, uma pesquisa revelou que 4% da população adulta do Brasil abusa de álcool, totalizando cerca de 6 milhões de pessoas. Os homens representam 6,6% desse percentual, enquanto as mulheres 1,7%. Essa tendência é mais pronunciada nas regiões Centro-Oeste e Norte, com taxas de 6,8%. O levantamento é de 2023 e foi realizado pela Vital Strategies, organização global de saúde pública.

"A pessoa que é atingida pela doença do alcoolismo tem muita dificuldade de parar porque fica muito envolvida com a dependência e sempre com uma necessidade de lutar. É um vício, então quando se está sem usar, sofre por querer usar. E quando ela usa, sofre porque sabe que vai ter uma reação ruim. Para se livrar dessa dependência é preciso ajuda. No AA, é onde encontramos pessoas que passaram por todo esse redemoinho e que conseguiram sair dele. Ouvir esses relatos mostra uma luz no fim do túnel. Faz pensar 'eu também posso parar'", compartilha Paulo.

(Foto: Reprodução)

Como buscar ajuda

Atualmente, o AA está presente em todos os estados do país. São 3.844 grupos realizando 8.702 reuniões por semana. Em Mato Grosso, os grupos estão presentes em 23 municípios. A capital conta com 15, que se reúnem em diferentes bairros da cidade, todos os dias da semana. Há ainda reuniões virtuais para quem não pode comparecer presencialmente. Informações podem ser solicitadas via ligação telefônica no número (65) 3221-1020 ou por Whatsapp (65) 98443-4986.