Cuiabá escancara descaso com o time feminino ao entrar em campo com nove jogadoras
A bola parou de rolar antes mesmo do apito final.
A bola parou de rolar antes mesmo do apito final. O motivo foi simples: falta do número mínimo de atletas do Cuiabá dentro de campo. O caso ocorreu pelo Campeonato Mato-grossense Feminino, no último domingo (11.08), em que o único representante do estado na Série A do Brasileiro no masculino, o Cuiabá, perdeu por 1 a 0 para o Operário Ltda por falta de jogadoras.
Por ter um elenco reduzido e problemas com lesão, o time cuiabanista entrou em campo com apenas nove jogadoras. Para evitar o W.O., entraram em campo. Por estarem em menor número e se desgastarem mais que as rivais, três jogadoras do Cuiabá não aguentaram e precisaram deixar o jogo. Como a regra permite que o jogo continue com um número mínimo de sete atletas, o jogo foi dado como encerrado antes do fim dos 90 minutos.
O descaso do Cuiabá com o futebol feminino não para por aí. Relatos de atletas mostram a situação precária em que o time feminino do clube precisa conviver. Essa situação é incompatível com os números e investimentos do clube que em 2023 arrecadou mais de R$ 168 milhões. Recentemente, o Cuiabá inaugurou parte do Centro de Treinamento para o futebol masculino profissional, que custou cerca de R$ 50 milhões. O projeto é visto pela diretoria como o marco principal para o Dourado se manter na elite da Série A.
Relatos de ameaças
Devido à situação de não terem jogadoras suficientes para atuar, as atletas cogitaram não entrar em campo, o que acarretaria em W.O. e o clube teria que pagar multa no valor de R$ 20 mil, segundo regulamento da competição. De acordo com informações obtidas pela reportagem, o clube alegou que o montante seria descontado das próprias jogadoras. Sendo assim, elas atuaram por alguns minutos. O árbitro Rodrigo Pio de Jesus interrompeu a partida e detalhou na súmula que três atletas "informaram que não tinham mais condições de jogo por estarem supostamente lesionadas, acarretando assim o término da partida por número insuficiente de atletas".
O cenário vai na contramão dos incentivos da CBF e dos principais clubes do país para o fomento do futebol feminino no país. A postagem publicada nas redes sociais por uma jogadora cita "descaso" do clube com o departamento oposto e a gerência do masculino.
“Time de Fut7? Não, o time feminino do Cuiabá Esporte Clube. Competição de Fut 7? Não, Campeonato Mato-grossense de Futebol Profissional”, postou uma das atletas.
“Com dor, com raiva, sem condições de jogo. Não é justo com a gente, não é justo com nosso sonho, não é justo com ninguém. NÃO É HUMANO”, escreveu outra.
Sem se identificar, uma jogadora citou os problemas estruturais e relatou que uma companheira foi desligada do clube após familiares reclamarem da situação.
"O pai de uma das atletas mandou um áudio para a supervisora do clube reclamando das condições e a atleta foi dispensada. No final o clube tirou o alojamento, deu 500 reais pra cada e deu um dia pra gente sair do alojamento e se virar pra achar um lugar pra ficar", destacou.
"O que impede as meninas de jogar no clube é a questão salarial. Na verdade nem é um salário, é uma ajuda de custo. Tem meninas que ganham 300, 500 reais. Por essa situação ficamos sem atletas para iniciar o estadual. O treinador chegou na gente e nos perguntou se conhecíamos atletas da cidade para indicar. As atletas indo atrás de jogadoras, não era nem o clube", relatou uma atleta do Cuiabá.
Diante dessa situação, apenas 15 atletas foram inscritas para a disputa do Mato-grossense. Por conta de lesões, culminou da última rodada da primeira fase contra o Operário, o time só tinha nove jogadoras aptas para entrar em campo.
Em busca de valorizar o futebol feminino, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou que até 2027 todos os times da Série A, B, C e D terão de ter uma equipe feminina. Clubes da primeira e segunda divisão já são obrigados a terem equipes femininas. De acordo com os relatos de atletas, o Cuiabá só possui o time feminino porque existe essa obrigação por parte da entidade máxima do futebol.
O Cuiabá Esporte Clube foi procurado pela reportagem e preferiu não se manifestar sobre o caso.