95% dos brasileiros dizem ter consciência das mudanças climáticas
A grande maioria da população brasileira (95,4%) afirma ter consciência de que as mudanças climáticas estão em curso, enquanto apenas 3,5% dizem não ter consciência e 1% não soube ou não quis responder.
A grande maioria da população brasileira (95,4%) afirma ter consciência de que as mudanças climáticas estão em curso, enquanto apenas 3,5% dizem não ter consciência e 1% não soube ou não quis responder.
Os dados são da pesquisa "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil", divulgada na 4ª feira (15.mai.2024) pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), associação civil sem fins lucrativos ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Eis a íntegra do estudo (PDF – 2 MB).
A consciência quase unânime dos brasileiros nas mudanças climáticas, no entanto, não se traduz em absoluta concordância sobre as razões do fenômeno. Para 78,2% dos entrevistados, as transformações no clima do planeta Terra ocorrem em razão da ação humana –como apontam diferentes estudos científicos. Para 19,6%, porém, essas mudanças são da natureza, sem intervenção do homem.
A percepção da gravidade das mudanças climáticas é ainda mais relativa: 6 de cada 10 entrevistados (60,5%) concordam que o evento representa um "grave perigo para as pessoas no Brasil". Para 26,9%, os riscos são de porte "médio"; e 11,8% creem que as mudanças representam "um perigo pequeno" (8,2%) ou "não são um perigo" (3,6%).
Amostra
A pesquisa foi aplicada na última semana de novembro e na 1ª semana de dezembro de 2023, bem antes das tempestades e enchentes que afligem o Rio Grande do Sul. Foram entrevistadas 1.931 pessoas com 16 anos ou mais. A composição da amostra tem representação de estratos por gênero, idade, escolaridade, renda e local de moradia em todas as regiões do país.
Essa foi a 6ª edição da pesquisa de opinião sobre percepção pública de ciência e tecnologia entre os brasileiros realizada pelo CGEE. As edições anteriores ocorreram em 1987, 2006, 2010, 2015 e 2019. Os pesquisadores avaliaram que não foram observadas mudanças significativas de interesse pelas temáticas abordadas entre os levantamentos.
Interesse pela ciência
Na edição de 2023, o interesse por ciência e tecnologia ficou no mesmo patamar das pesquisas anteriores (60,3% dos entrevistados). O percentual alcançado pela temática indica interesse menor do que em temas associados, como medicina e saúde (77,9%) e meio ambiente (76,2%); e em temas diferentes, como religião (70,5%) e economia (67,7%).
Ciência e tecnologia ficam à frente do interesse por esporte (54,3%); arte e cultura (53,8%); e política (32,6%). Mesmo que minoritário, o interesse por política foi o único sobre o qual se notou crescimento significativo nas duas últimas edições da pesquisa: mais de 9 pontos percentuais. Em 2019, só 23,2% dos entrevistados se declararam interessados por esse assunto.
Apesar do interesse declarado sobre ciência e tecnologia, só 17,9% dos entrevistados disseram conhecer alguma instituição de pesquisa científica e 9,6% lembraram o nome de cientistas brasileiros importantes. Também é minoritária a proporção de brasileiros que visitam espaços ou participam de atividades relacionadas ao conhecimento científico ou à educação.
"Declarar interesse significa a importância que os brasileiros atribuem para o tema (não significa necessariamente ler, participar ou se informar, mesmo que a correlação exista)", explica o relatório do estudo.
Tendo como referência os 12 meses que antecederam o levantamento, menos de 20% dos entrevistados (19,4%) disseram ter ido a uma biblioteca; 18,9% participaram de feira ou olimpíada da ciência; 13,4% visitaram museu de arte; 11,5% estiveram em museu de ciência e tecnologia; e 6,6% acompanharam a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. O evento foi realizado em Brasília com o tema "Bicentenário da Independência: 200 Anos de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil". Até mesmo visita a zoológicos foi minoritária entre os entrevistados (32,7%).
Cidadania científica
Conforme o relatório da pesquisa, o levantamento indica desigualdade no acesso ao conhecimento. "O interesse em C&T [ciência e tecnologia] tende a se modificar em função da região de moradia, da idade, da renda e do tipo de participação política dos entrevistados. Isto é, seu valor é maior nas regiões Norte e Sul; cai fortemente com a maior idade; ao crescer a renda, o interesse tende a crescer; e seu valor aumenta de acordo com aqueles que dizem participar de greves, manifestações, abaixo-assinados ou outras formas de manifestação política."
Para Yurij Castelfranchi, professor associado do Departamento de Sociologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), os dados do levantamento indicam que há no Brasil "pessoas excluídas da ciência" ou "exilados da cidadania científica".
Apesar da apartação social, o acadêmico assinala que a maior parte dos entrevistados "acha a ciência relevante". A larga maioria dos brasileiros entrevistados sugere aumentar ou manter investimentos em ciência "mesmo em anos de crise". Em 2023, "apenas 2,6% dos entrevistados acreditam que o investimento em pesquisa científica deva ser diminuído", contabiliza o relatório da pesquisa.
Desinformação
A exclusão social também não afetou a percepção dos perigos da desinformação e da propagação de notícias falsas. 5 de cada 10 entrevistados disseram "se deparar frequentemente com notícias que parecem falsas", descreve o relatório. 61,8% asseguram nunca compartilhar informações caso não tenham certeza da veracidade, enquanto 36,5% admitem já ter compartilhado informações falsas.
Ainda de acordo com o relatório, 45,6% dos entrevistados "suspeitam da veracidade das informações provenientes de pessoas ou instituições das quais discordam". Para 42,2%, as informações são verdadeiras "quando são provenientes de pessoas ou instituições que admiram".
Pelo menos 40% das pessoas entrevistadas afirmaram que "só acreditam em uma informação se ela for corroborada por outras fontes". Na avaliação de Castelfranchi, a atitude declarada de checagem é positiva: "Isso é um princípio básico do letramento midiático".
Além de colher as opiniões dos brasileiros, a pesquisa do CGEE analisou reportagens sobre ciência em 2 dos mais importantes jornais brasileiros (Folha de S.Paulo e O Globo) e avaliou postagens sobre a temática nas redes sociais (Instagram e YouTube).
Os resultados dessa análise foram divulgados no relatório "A ciência em diferentes arenas". Eis a íntegra do documento (PDF – 4 MB).
Com informações da Agência Brasil.