Dólar vai subir mais? Confira tendência para o câmbio e fertilizantes

Na última semana, o dólar atingiu o maior patamar do ano e encostou em R$ 5,29.

Dólar vai subir mais? Confira tendência para o câmbio e fertilizantes

Na última semana, o dólar atingiu o maior patamar do ano e encostou em R$ 5,29. O mercado repercutiu a escalada das tensões envolvendo Israel e Irã e riscos fiscais no Brasil, entre outros fatores. No agro, um dos principais efeitos foi sentido nos preços dos fertilizantes importados. Confira trechos da conversa que tive com o economista André Perfeito e o analista da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.

O dólar subiu bem nessas últimas semanas, efeito da geopolítica, efeito do risco fiscal atribuído a um governo que deve gastar mais do que arrecada, entre outros fatores. Esse é um movimento pontual ou é um cenário que só começou e vai continuar?
André Perfeito: Na semana anterior a gente teve uma inflação nos Estados Unidos até bastante persistente. O CPI por lá, a inflação veio mais alta. Isso daí já acendeu antes do conflito, do ataque do Irã, e você teve aí uma discussão sobre se os juros vão cair nos Estados Unidos ou não neste ano por conta de uma inflação mais persistente por lá. Isso por si só já aprecia a moeda norte-americana porque boa parte do fluxo entre dois países tem uma parte que é comercial, E nesse sentido, o agronegócio brasileiro — e também como a área de matéria-prima — tem um peso muito grande, mas um fluxo financeiro gigantesco. Então, só dos juros não cair na velocidade que se espera já estressou o dólar. Fora isso, a gente teve uma guerra, não dá nem para dizer que é uma guerra. Na verdade, foi uma espécie de recado que o Irã mandou para Israel. Foi seguido agora de outro recado que o Israel mandou para o Irã de um uso militar para ter um sentido diplomático, algo desse jeito. Isso daí já estressa mais ainda. E, na segunda-feira, logo na sequência, depois desses eventos, você teve um mal-estar gerado por algumas falas do ministro da Fazenda, o Fernando Haddad, que deixou claro uma coisa que era bastante óbvia. Eu acho que o resultado fiscal não vai ser tão positivo. Eu acho que ninguém esperava diferente na Faria Lima. Mas agora a gente tem que pensar em algumas coisas. Sim, o câmbio vai estressar. Isso é verdade, mas no médio longo prazo eu não sei se isso vai se manter. O que eu quero dizer com isso é o seguinte: o Brasil tem acumulado saldos em balanço comercial bastante relevantes. Se pegar o período da Guerra da Ucrânia ou coisa que o vale, a gente conseguiu ainda se manter de forma bastante positiva. E um dos motivos para isso acontecer é que a nossa balança comercial na rubrica de petróleo e derivados está superavitária. Então, se o petróleo explode, isso é ruim de um lado porque os derivados de petróleo, como o fertilizante, ficam mais caro. O Brasil não importa muito disso, mas a gente exporta mais óleo bruto do que importa desses bens. Então, isso vai ficar meio “hedgeado”, como falam no mercado financeiro. A alta de um compensa a queda do outro, e por aí vai. Então, eu olho isso com muita atenção, mas mais do que isso. Já está evidente que o Banco Central brasileiro não deve cortar tanto o juro em 2024. A projeção inicial era de 9%, eu estou com 9,75% ao ano já faz um tempo, a minha opinião era divergente do mercado. Mas no relatório Focus você começa a ver revisões para cima da taxa de juro e se a taxa de juro aqui cai menos ou fica — vou falar de um jeito horroroso — “menos menor” do que esperado antes. Isso daí acaba também atraindo dólares para cá também por conta do diferencial de juros. O que eu quero alertar todo mundo é o seguinte: talvez a gente esteja no momento mais inflamado disso tudo porque se eu for precificar que vai ter um conflito entre Irã e Israel no Oriente Médio, aí a gente tem que ter uma outra conversa, é um outro mundo. Mas por enquanto tenho uma visão um pouco mais construtiva para o médio e longo prazo. Mas, de novo, por conta de balança comercial que continua positiva. E dois: por conta uma reação da política monetária no Brasil que deve reagir não subindo os juros, mas cortando menos do que o mercado inicialmente pensava.

Isso levaria o dólar a se manter em patamares ao redor dos R$ 5,30 ou um pouco mais do que isso ou você está mais para o lado de dólar ao redor de R$ 5, como estávamos antes?
André Perfeito: Eu acho que é mais cara de R$ 5.

Que efeitos essa alta do dólar na semana já trouxe na formação de preços de fertilizantes?
Jeferson Souza:
Se o preço em dólar não variou, vamos pegar um exemplo: o cloreto de potássio está estável na semana em dólar. Ou seja, se eu fizer uma conversão com o câmbio de R$5,20 e passar para um câmbio de R$ 5,26, vou ter um aumento. O contrário também é verdadeiro, ou seja, se eu pegar o preço médio da minha semana e comparar com a semana passada, eu tenho mais ou menos R$ 80 de aumento na tonelada dos fertilizantes consumidos no Brasil. Ou seja, eu tive um aumento na cotação do insumo em reais por tonelada. Agora, o produtor tem que ficar muito atento a esse balanço porque nós compramos o adubo em dólar, e o mercado de fertilizantes no Brasil é um mercado dolarizado. Então, quer dizer o seguinte: se o adubo permanecer estável ou subir em dólar, e você tiver ainda mais um incremento na divisa americana, um fortalecimento na divisa americana, significa que o produtor vai pagar mais caro, isso é um fato. Só que tem um porém nessa história: ele vai vender a soja também mais cara. Você tem que colocar na ponta do lápis quando eu falo em poder de compra. Você perde um lado, ganha do outro, é assim que funciona.

Ganhou ou perdeu nessa semana?
Jeferson Souza:
Nessa semana, eu posso dizer que a relação de troca dele em reais ficou parecida com a semana passada, não mudou tanto. Agora a relação de troca em dólar piorou levemente nessa semana.