Bolsonaro em Sinop cultiva a polarização e humilha um aliado

Mato Grosso é o bunker do bolsonarismo, o território onde o cultivo da polarização entrega os melhores resultados para Jair Bolsonaro.

Bolsonaro em Sinop cultiva a polarização e humilha um aliado

Mato Grosso é o bunker do bolsonarismo, o território onde o cultivo da polarização entrega os melhores resultados para Jair Bolsonaro. Com a fiel devoção dos seguidores e uma bancada parlamentar atuante nas redes sociais, reverberando o radicalismo ideológico, o bolsonarismo segue firme e forte no ataque ao presidente Lula e seu governo. Há força e também fraqueza: a extrema direita bolsonarista e o seu líder, Jair Bolsonaro, falam sempre para dentro, com o objetivo de manter coesa a sua militância. São incapazes de incorporar a ideia democrática do respeito ao outro, do respeito à diferença, do respeito à diversidade.

Na sua visita a Sinop, o líder extremista fez seu show radical para os seguidores. Indígenas, negros quilombolas e sem terra são declarados pelo ex-presidente como inimigos do povo. Inimigos do seu povo bolsonarista. Para esses brasileiros considerados por ele de segunda classe, Bolsonaro reserva o seu desprezo, ódio e preconceito, colocando-os como uma ameaça a ser exterminada.

"O que fizemos para o agro? Não atrapalhamos o agro. Fomos buscar fertilizantes na Rússia e não criamos nenhum problema que viesse a lhes prejudicar. Demos o porte civil de arma para quem é do campo. Não tivemos invasão de terra, do MST [Movimento Sem Terra]. Também não demarquei uma só terra indígena, quilombola", enumerou sobre as ações da gestão dele, de 2019 a 2022, em desfavor dos brasileiros não-bolsonaristas.

Bolsonaro disse em seu discurso, quase sempre movido pela fusão da superioridade moral dos militares com a religiosidade, que ouve o povo fazendo apelos movidos pela crença divina de que ele é o político representante de Deus no Brasil: "O que mais tenho ouvido quando estou no meio do povo são três pequenas frases: 'Deus te abençoe', 'estamos orando por você' e 'volta Bolsonaro", na sua apologia a si mesmo. Bolsonaro, é fato, não tem falado muito nos militares, depois do depoimento de dois oficiais generais, comandantes do Exército e da Aeronáutica, que confirmaram que ele tentou dar um golpe para continuar no poder.

Humilhação e Humor

Além do discurso, nos moldes do show de sempre, a passagem de Bolsonaro por Sinop registrou também o jeito tosco de fazer política. A carroceria da caminhonete que carregava Bolsonaro foi a área política onde ele, nos seus maus modos e jeito tosco que alegra sua claque, deixou claro sua rejeição pelo prefeito que virou bolsonarista, recém filiado ao PL, e o seu apoio à empresária filiada ao partido Novo, sua preferida e do bolsonarismo raiz.

Pela lente do humor do talentoso Thyago Mourão vale conferir o gesto que Bolsonaro fez de humilhar publicamente o casal Dorner. Os seus geniais personagens, Xô Dito e Nenê, descrevem e criticam com muito humor as cenas da passagem de Bolsonaro por Sinop. É a excelência da arte do humor inteligente. Arte e artistas, aliás, alvos de sempre da extrema direita que não tolera o diálogo e o debate sobre suas ideias rasas e a verdade única.