Próximo Papa deve ser conciliador e moderado, diz pesquisador

Quem vai substituir o Papa Francisco? Como será o próximo papa? Que rumo a igreja deve tomar nas próximas décadas? Será uma igreja ainda mais conservadora ou seguirá o legado de Francisco em direção a um conceito católico de defesa do meio ambiente e críticas ao “poder do dinheiro”? Católicos e não católicos de todo mundo fazem perguntas do tipo durante a expectativa mundial de viver o enredo de Conclave, filme do diretor Edward Berger, que recebeu indicação de melhor filme no Oscar, e que mostra os meandros políticos da escolha de um novo papa.

Próximo Papa deve ser conciliador e moderado, diz pesquisador

Quem vai substituir o Papa Francisco? Como será o próximo papa? Que rumo a igreja deve tomar nas próximas décadas? Será uma igreja ainda mais conservadora ou seguirá o legado de Francisco em direção a um conceito católico de defesa do meio ambiente e críticas ao “poder do dinheiro”?

Católicos e não católicos de todo mundo fazem perguntas do tipo durante a expectativa mundial de viver o enredo de Conclave, filme do diretor Edward Berger, que recebeu indicação de melhor filme no Oscar, e que mostra os meandros políticos da escolha de um novo papa.

Para o professor e pesquisador Adilson José Francisco, da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), doutor em História pela PUC-SP e pós-doutorando pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é praticamente impossível afirmar quem e como será o novo Papa, mas a tendência é que ele seja alguém “moderado”.

“Em um contexto tão tenso como é o que nós vivemos hoje, seja extra eclésia, seja intra eclésia, a tendência é buscar um um novo líder, que fazendo um paralelo com o Congresso Brasileiro, seja um líder do centrão”, comentou Adilson, que estuda religiões contemporâneas.

Adilson ressaltou que o Papa Francisco deixou um legado marcante ao renovar o colégio cardinalício, nomeando 138 cardeais – muitos deles de regiões sub-representadas, como África e Ásia. São os cardeais com direito ao voto que devem decidir quem será o novo papa da Igreja Católica.

“Ele buscou perfis alinhados à sua visão pastoral, focada em justiça social e acolhimento”, explicou.

O professor destacou que a eleição do próximo pontífice ocorrerá em um contexto de tensões internas, com uma forte reação conservadora contra as reformas de Francisco, como a inclusão de mulheres em cargos importantes e a abertura a divorciados e LGBTQIA+.

“A Igreja não está imune às influências políticas. Há cardeais que publicamente se opuseram a Francisco, especialmente nos EUA e Europa, onde o conservadorismo é forte”, afirmou. Para Adilson, o próximo papa provavelmente será uma figura mais conciliadora, evitando extremos: “Não teremos um ‘Francisco II’, mas também não será um retorno ao conservadorismo de Bento XVI. A aposta é em um nome de centro, capaz de negociar entre estas forças, uma figura que possa justamente aplacar essas questões dentro da igreja”, declarou.

Foto: Tânia Rêgo/ABr

Papa pode ser italiano e conciliador

Sobre os nomes cotados para a sucessão, Adilson mencionou a possibilidade de um papa italiano – após 46 anos de pontífices estrangeiros –, mas ponderou que a escolha dependerá da necessidade de unidade.

“A tendência do cardilanato é para salvar a instituição e salvar a presença a igreja no mundo”, comentou.

Segundo o pesquisador, o conclave deve priorizar alguém que preserve a instituição em meio a divisões e, portanto, o perfil deve ser mais administrativo que revolucionário.

Risco de perda de fiéis e a concorrência evangélica

Questionado sobre se um papa progressista afastaria fiéis em um cenário dominado por discursos pentecostais – muitas vezes alinhados a pautas conservadoras e de prosperidade –, Adilson argumentou que a coerência é o maior trunfo da Igreja.

“O neopentecostalismo atrai, mas não fideliza. Quando as promessas não se cumprem, as pessoas abandonam essas comunidades”, disse.

Adilson diz que em pesquisas recentes foi amplamente observado que ex-fiéis de religiões neopetencostais acabam se sentindo frustrados por promessas de cura e de prosperidade que não são cumpridas. Nestes casos, apesar do enorme poder de atração, o fiel acaba migrando para outra religião, diante da enorme oferta de religiões e cultos que existem no mundo atual.

Francisco, segundo ele, soube conectar-se com as dores contemporâneas, como a crise migratória e a desigualdade, gestos que ecoaram além do mundo católico. “Sua postura acolhedora, inspirada em Jesus, ressoou até entre não religiosos. Se o próximo papa seguir esse caminho, a tendência é fortalecer a Igreja, não enfraquecê-la”, afirmou.

Crise climática e diálogo inter-religioso

O professor destacou dois avanços fundamentais do pontificado de Francisco. Um deles foi a crise climática e a defesa do meio ambiente, um tema que era tratado por Francisco de Assis, mas foi escanteado pela Igreja.

“Ele foi o primeiro papa a chamar a destruição da natureza de ‘pecado ecológico’ e a criticar o capitalismo predatório”, declarou.

Além disso, Francisco também abriu caminho para o diálogo com outras religiões, evocando o desejo pela paz entre os católicos e um discurso de harmonia entre diferentes credos de todo o mundo.

“Francisco quebrou barreiras ao rezar em mesquitas e reconhecer que há múltiplos caminhos para Deus – algo inédito no Vaticano”, declarou o pesquisador.