Médicos estão em alerta devido ao aumento de casos de um “superfungo genital mutante”, a Trichophyton mentagrophytes tipo VII (TMVII), que vem se espalhando por contato sexual, representando uma crescente ameaça à saúde pública. Esse fungo resistente a múltiplos medicamentos pode atingir os genitais e responder apenas a tratamentos antifúngicos extremamente potentes, o que tem preocupado especialistas.
A infecção, que pode evoluir para quadros incuráveis e causar fungos “devoradores de pele” permanentes, foi identificada pela primeira vez em 2014 na Suíça, associada a viagens ao Sudeste Asiático. Desde então, casos de tinea genitalis – como é chamada a erupção cutânea provocada pelo TMVII – foram registrados em diversos países, como Alemanha, França, Estados Unidos e, mais recentemente, na Grécia.
Relato de Caso na Grécia
Em um novo relatório publicado na revista médica QJM: An International Journal of Medicine, médicos gregos relataram o caso de um homem gay de 36 anos, que procurou uma clínica de infecções sexualmente transmissíveis em Atenas com uma erupção pruriginosa nas nádegas, abdômen e axilas. Após exames, a presença de TMVII foi confirmada. Apesar do tratamento inicial com antifúngicos como terbinafina e flutrimazol, comumente usados para infecções de unhas e micoses, o paciente apresentou apenas uma melhora gradual e lenta. Após três semanas sem resultados significativos, o tratamento foi intensificado com itraconazol, que finalmente eliminou a erupção após seis semanas.
Os médicos do Hospital Andreas Syngros de Doenças Venéreas e Dermatológicas observaram lesões em forma de anel e pequenas protuberâncias inflamadas cheias de pus na pele do paciente. Ele relatou que lesões semelhantes apareceram recentemente em seu parceiro, que havia viajado para o Norte da África um mês antes do início dos sintomas. De acordo com os autores do estudo, a TMVII parece ser transmitida de humano para humano por contato sexual, com maior incidência entre grupos de comportamento sexual de alto risco, como homens que fazem sexo com homens. Eles alertam para a necessidade de maior vigilância dos profissionais de saúde.
Casos nos EUA e Temores no Reino Unido
Nos Estados Unidos, autoridades de saúde relataram três novos casos de TMVII em novembro de 2024, após a confirmação do primeiro caso de transmissão sexual em Nova York, em junho. O paciente havia viajado para Inglaterra, Grécia e Califórnia, relatando contatos sexuais durante essas viagens. Embora não seja fatal, a infecção pode deixar cicatrizes permanentes ou alterações de pigmentação na pele.
No Reino Unido, especialistas como o Dr. David Denning, da Universidade de Manchester, alertam que casos não detectados podem estar circulando, especialmente em estágios iniciais. Ele afirmou ao jornal britânico Daily Mail que é muito provável que haja casos não diagnosticados, uma vez que as erupções podem ser confundidas com eczema. Denning também ressaltou que longas filas de espera no sistema público de saúde (NHS) e atrasos de até três semanas para resultados de testes PCR podem agravar ainda mais a situação.
Desafios no Diagnóstico e Tratamento
O TMVII pode permanecer no corpo por dias antes de apresentar sintomas visíveis, como erupções dolorosas. Sua resistência a tratamentos comuns e a inflamação severa que provoca tornam-no um grande desafio médico. “Embora não seja mais transmissível que outros fungos de pele, ele causa uma erupção muito pior, e os tratamentos habituais não funcionam”, explicou Dr. Denning.
Com a crescente preocupação sobre a disseminação do TMVII, especialistas pedem maior vigilância e acompanhamento de casos para conter a propagação desse “superfungo” que ameaça se tornar uma epidemia.
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