Bolsonaro virou a cortina de fumaça de que Lula precisava

Lula está vivendo um verdadeiro inferno.

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Bolsonaro virou a cortina de fumaça de que Lula precisava

Lula está vivendo um verdadeiro inferno. Tirando o caso do mensalão, nunca enfrentou um momento tão desafiador em seus mandatos presidenciais. Popularidade em queda, pesquisas cada vez mais negativas. Aliados pulando fora do barco. Precisava desesperadamente de uma boia para sobreviver nesse mar revolto. E ela veio! Mas não das mãos de um aliado — e sim de seu maior adversário: Bolsonaro. Veja que história curiosa.

Coincidências ou fatos planejados?

Quando a situação se complica para um governante, poucas saídas são tão eficazes quanto o surgimento de um fato avassalador que funcione como cortina de fumaça. A nova notícia precisa ser tão impactante que praticamente apague do radar as críticas e polêmicas anteriores.

Às vezes, esses eventos parecem coincidir com momentos críticos. Outras vezes, a conveniência do timing levanta suspeitas. Os mais céticos chegam a dizer que certos fatos dão a impressão de serem “planejados” para desviar o foco da opinião pública. Independentemente da origem, a verdade é que essa dinâmica se repete há décadas.

Para que uma nova pauta consiga sobrepujar outra, precisa ter um peso midiático igual ou superior ao que dominava as manchetes. Além disso, a memória coletiva é curta: dificilmente um escândalo permanece no centro do debate por mais de cinco ou seis dias. Depois disso, a página vira e a atenção se desloca para o próximo grande acontecimento.

Histórias recentes para relembrar

A prisão de Edinho, filho de Pelé, em junho de 2005, e depois em 2014. Em sua primeira detenção, os bastidores do mensalão estavam fervendo, mas a comoção com o filho do maior jogador de futebol de todos os tempos rapidamente dominou as manchetes.

E assim, em épocas diferentes, tivemos casos de grande repercussão que ganharam espaço privilegiado na mídia, substituindo o que estava sendo noticiado, como a prisão da empresária Eliana Tranchesi, dona da icônica Daslu, em 2009, e dos irmãos Fernando e Caetano Schincariol, proprietários de uma das maiores cervejarias do país, em 2016.

Grandes coincidências

Os processos podem ter seguido seus trâmites normais, mas para muitos não passou despercebido o fato de que vieram à tona de maneira espetacular justamente quando outros temas inconvenientes ganhavam força. O uso dessas “coincidências” parece ter sido refinado ao longo do tempo. E o contexto atual não foge à regra.

Popularidade em queda livre

Lula atravessa um dos momentos mais delicados de sua popularidade. Até mesmo aliados reconhecem que reverter esse quadro será um desafio. A equação não poderia ser mais desfavorável: inflação persistente nos alimentos, juros altos, arrecadação insuficiente para cobrir gastos e um cenário econômico que não dá sinais de melhora.

As pesquisas divulgadas na última semana escancararam essa crise. O Datafolha, por exemplo, revelou na sexta-feira (14) que 41% dos entrevistados reprovam o governo Lula, enquanto apenas 24% o aprovam. É o pior índice de popularidade de todos os seus três mandatos.

Para se ter uma ideia da dimensão dessa queda, basta comparar com os números de dezembro de 2024, quando a aprovação era de 35% e a reprovação, 34%. Em poucos meses, a imagem do presidente desabou 11 pontos. O resultado acendeu um alerta até entre seus aliados mais fiéis, que passaram a criticá-lo de forma aberta e contundente.

Para complicar ainda mais, a Paraná Pesquisas revela que Bolsonaro venceria Lula no primeiro e no segundo turnos. E não parou aí, até Michele Bolsonaro venceria o presidente em em 2026. Só notícia ruim para o chefe do Executivo.

O respiro na hora certa

Então, surge uma tábua de salvação para desviar o foco: o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pela PGR sob a acusação de tentativa de golpe de Estado. Embora a denúncia já fosse aguardada nos bastidores, sua divulgação causou um terremoto.

O impacto foi imediato. Manchetes, análises e debates se voltaram inteiramente para o tema. Emissoras de rádio e televisão não falam de outro assunto. Especialistas foram chamados para detalhar os próximos passos do processo, e trechos da denúncia foram dissecados à exaustão.

Os problemas não serão esquecidos

Se o governo Lula precisava de uma cortina de fumaça, encontrou um verdadeiro encerado. A crise de popularidade foi empurrada para o rodapé dos jornais, enquanto Bolsonaro passou a ser o nome mais citado no noticiário. Essa mudança de cenário dá a Lula um pouco de ar. Mas o alívio tende a ser passageiro.

A inflação não desaparecerá, o preço dos alimentos seguirá pressionando o bolso do consumidor, a gasolina continuará subindo e a taxa de juros se manterá em níveis elevados. Resolver esses desafios exigiria uma equipe muito competente. O problema é que, até agora, a realidade tem mostrado o oposto. Siga pelo Instagram: @polito