Cid diz ter sido coagido a delatar e critica Alexandre de Moraes

A voz de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) no Planalto, aparece numa gravação em áudio realizada na semana passada afirmando que teria sido coagido a delatar seu ex-chefe.

Cid diz ter sido coagido a delatar e critica Alexandre de Moraes
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Não é revelado o nome do interlocutor. Os áudios tal como apresentados por Veja dão a entender que Cid se sentiu pressionado a revelar como se deram reuniões e conversas no final de 2022 dentro do núcleo central do governo anterior.

Em sua delação, há relatos de oficiais militares de alta patente tendo contato com Bolsonaro para discutir a possibilidade de baixar um decreto de estado de sítio. O resultado, segundo afirma a Polícia Federal seria impedir a posse do então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Eis a seguir a transcrição do dizem os áudios com a voz de Mauro Cid:

"Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: olha, a sua colaboração está muito boa… tipo assim, ele até falou: vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você.

"Eu vou dizer pelo que eu senti: eles já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem.

"Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo, a lei é eles. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando quiser, como ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação.

"Se eu não colaborar, vou pegar 30, 40 anos [de prisão]. Porque eu estou em vacina, eu estou em jóia".

ÁUDIOS "CLANDESTINOS"

Depois da publicação da reportagem da Veja, a defesa de Mauro Cid divulgou uma nota em que diz que o militar "em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade" da PF, da PGR (Procuradoria-Geral da República). Classificaram os áudios como "clandestinos".

Leia a íntegra da nota da defesa de Mauro Cid:

"A defesa de Mauro César Barbosa Cid, em razão da matéria veiculada pela revista Veja, nesta data, vem a público afirmar que:

"Mauro César Babosa Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios.

"Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade".