Meus dois Papas

Foi lançada na semana passada, em mais de 100 países, mais uma obra autobiográfica do Papa Francisco, desta vez intitulada "Hope" – nome de origem inglesa que significa "Esperança" em português.

Meus dois Papas

Foi lançada na semana passada, em mais de 100 países, mais uma obra autobiográfica do Papa Francisco, desta vez intitulada "Hope" – nome de origem inglesa que significa "Esperança" em português. É o segundo livro do Papa, em dois anos, depois de uma edição de memórias lançada em 2024. Na nova obra, ele diz, em relação a sua saúde, que está "bem" e que "a realidade é, muito simplesmente, que estou velho".

"Hope" é um nome que transmite otimismo, fé e confiança, diz o dicionário. Segundo a Mondadori, a editora italiana do livro, o novo volume foi originalmente planejado por Francisco para ser lançado após sua morte. Porém, o Papa decidiu que deveria ser publicado durante o Ano Santo Católico em andamento, que também se concentra no tema da esperança.

Pessoalmente, gosto do Papa Francisco desde que assumiu, em 2013. Originário da América do Sul, acho-o bem humorado, feliz, empático e moderno. Também não tem medo de enfrentar situações complicadas – Francisco defende com veemência a decisão de 2024 de permitir que os padres abençoem casais do mesmo sexo, caso a caso.

Assim, o Papa Francisco, com sua serenidade e simpatia, angariou minha admiração e votos de boa saúde o tempo todo. E, nesse instante, ao destacar a esperança, o pontífice me faz refletir sobre 'esse ato de esperar alguma coisa com confiança'.

Preciso imediatamente restaurar a esperança no meu viver, posto que a realidade na qual estamos inseridos, seja ela de qualquer natureza, nos entristece por demais, deixando-nos céticos.

Em outra ponta, a reflexão que fiz acerca do otimismo de Francisco ganhou vigor na minha mente a partir do momento em que me ajudou a relembrar bons acontecimentos do passado, associados a Papas, que tentarei sintetizar.

Sou fã de Francisco, mas me lembrei que ele é o segundo Papa de minha preferência. Minha escolha original é João Paulo II, o primeiro Papa a visitar o Brasil, o maior país católico do mundo, em 1980. Lembro que, ao descer do avião, no dia 30 de junho, em Brasília, João Paulo II, originário da Polônia, ajoelhou-se e beijou o chão brasileiro.

Naquela data, morando na capital federal, meu marido José Luiz decidiu trazer de Cuiabá o padre, também nascido na Polônia, Francisco Czapla para acompanhar a visita de João Paulo II em Brasília. Padre Chico, como era conhecido entre os salesianos e alunos, havia sido padre conselheiro de José no Colégio Dom Bosco de Campo Grande, no ainda uno Mato Grosso, nos anos 1960.

Meu marido quis homenagear e agradecer os ensinamentos do padre Chico e assim o fez, convidando-o para ser nosso hóspede em Brasília durante a visita do seu compatriota João Paulo II à cidade. Com idade avançada e requerendo cuidados e atenção, Padre Chico chegou ao nosso apartamento acompanhado do Mestre Jorge Bombled, irmão salesiano igualmente respeitado pelo setor educacional mato-grossense.

José se encarregou de recepcionar padre Chico e levá-lo, sempre com Mestre Bombled do lado, aos eventos do Papa em Brasília. Foi difícil encaixar um encontro dos poloneses Padre Chico e Papa João Paulo II na rigorosa agenda do pontífice, mas, ao final, deu certo. O abraço entre os dois e as breves palavras que trocaram foi na Catedral de Brasília.

Foram poucos dias de convívio em casa com Padre Chico e Mestre Bombled combinado com os eventos do Papa polonês, mas foi tempo suficiente para deixar todos felizes e agradecidos pela iniciativa de José.

Onze anos depois, em sua segunda viagem ao Brasil, o Papa João Paulo II visitou Cuiabá. Já de volta a minha cidade natal, isso representou uma nova aproximação com João Paulo II. Minha missão, naquela ocasião, foi a de preparar e coordenar o Setor de Imprensa para a data da visita, que foi 16 de outubro de 1991.

Foi um trabalho coletivo, sob o comando do jornalista Paulo Leite, então secretário de Comunicação Social de MT. A complexa logística visando a cobertura jornalística da visita papal envolveu a participação de órgãos, instituições, entidades e governos federal, estadual e municipal.

Cuiabá recebeu cerca de 120 jornalistas nacionais e estrangeiros para a cobertura dos eventos do Papa, atraídos principalmente pelos encontros com os indígenas e com os estudantes.

Trabalho importante e realizado com sucesso pelos profissionais da imprensa e para a cidade, do qual me orgulho. Por conta dele tenho guardados os presentes que ganhei do Papa João Paulo II, em especial os terços.

Pensando no Papa Francisco e no Papa João Paulo II, no que inspiram e inspiraram, devo, sim, recolocar a esperança nas meditações.

E, nesse processo de esperançar, levarei junto o seguinte trecho do poema de Cora Coralina:

"É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas. Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros. Mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça".

Sônia Zaramella é jornalista e professora aposentada do curso de Jornalismo da UFMT

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online