Trajetória da dívida dificulta convívio com juro baixo, diz Campos Neto
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse nesta 3ª feira (1º.
O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse nesta 3ª feira (1º.out.2024) que dúvidas de agentes do mercado financeiro sobre a trajetória da dívida pública dificultam que os juros estejam em um patamar menor.
"Quando o mercado começa a ter questionamento sobre a trajetória da dívida fica muito mais difícil a gente conviver com juros baixos, a curva de juros longa sobe rapidamente", declarou durante palestra no evento "Crescera Capital – Investor Day 2024", promovido pela Crescera Capital, em São Paulo (SP).
A dívida bruta do Brasil atingiu 78,6% do PIB (Produto Interno Bruto) em agosto. Esse é o maior patamar desde outubro de 2021, ou 34 meses.
O chefe da autoridade monetária também mencionou momentos em que a parte fiscal contribuiu para juros menores, como a 1ª passagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Presidência, a Reforma da Previdência e a nova regra fiscal.
"É muito claro que quando a gente olha a história do Brasil num prazo mais longo, os momentos onde o Brasil conseguiu cair os juros e ter um juro mais estável por mais tempo foram momentos associados à percepção positiva sobre o fiscal", disse.
INCERTEZAS
Campos Neto declarou que o Banco Central optou por não dar um guidance –sinalização sobre a perspectiva da política monetária– em razão de “incertezas”.
“Nós entendíamos que tinha uma incerteza em relação ao que acontecia nos EUA, qual seria a reação do mercado. Uma incerteza em relação à dinâmica de curto prazo, ao quanto a mão de obra apertada estava influenciando a inflação de serviços no Brasil", disse.
O presidente do BC também disse que a decisão se deu para "não ficar mais dependente dos dados".
PRODUTIVIDADE
Além da dívida elevada, Campos Neto mencionou que outros 2 fatores são desafios:
- envelhecimento da população; e
- produtividade que não sobe.
“A gente tem um cenário que a Europa está com a produtividade ruim. A gente tem um cenário onde grande parte da Ásia a produtividade está caindo, ainda que positiva em alguns lugares, como na China. A gente tem a América Latina que basicamente não tem produtividade positiva”, declarou.
O chefe da autoridade monetária disse que o mercado tem dúvidas sobre quanto do crescimento do Brasil se dá por impulso fiscal. Na sua visão, a produtividade cai sem o agronegócio.
Campos Neto também falou em "inflação verde", com o preço dos insumos subindo.