Petrobras não descarta voltar atrás em decisão sobre dividendos

A Petrobras pode voltar atrás em sua decisão de não distribuir dividendos extraordinários –pagamento extra que as empresas fazem aos seus investidores– relativos ao lucro de 2023.

Petrobras não descarta voltar atrás em decisão sobre dividendos
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Segundo apurou o Poder360, há possibilidade da decisão ser revista pelo Conselho de Administração, majoritariamente governista, alterando assim a proposta a ser encaminhada para aprovação na AGO (Assembleia Geral Ordinária) da Petrobras, que ocorrerá em 25 de abril.

O episódio coloca em risco a permanência de Jean Paul Prates, já fragilizado na cadeira de CEO da estatal. Desde o ano passado, os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) têm feito duras críticas à sua gestão. Lula só assistiu até agora. O silêncio do petista, em certa medida, é lido como um apoio tácito para Costa e Silveira.

Nesta 2ª, Prates afirmou que a assembleia também pode ter um entendimento diferente do conselho sobre os dividendos. Em entrevista à Reuters, o presidente da Petrobras disse que a possibilidade de distribuição de 50% dos dividendos extraordinários possíveis ainda está na mesa.

O CEO negou que Lula tenha dado ordem direta para vetar o pagamento e classificou a decisão de não distribuir os proventos extras como um percalço "perfeitamente contornável". Segundo o executivo, a assembleia pode ter deliberação sobre isso (50/50) ou logo depois da assembleia. A proposta de 50/50 não morreu, e não foi enterrada porque eu me abstive", disse Prates à agência.

Na 5ª feira (7.mar), o Conselho da Petrobras aprovou a proposta de encaminhar à AGO uma distribuição de dividendos equivalentes a R$ 14,2 bilhões, ou seja, o mínimo previsto em sua política. Outros R$ 43 bilhões serão retidos em reserva estatutária, mecanismo criado em 2023 com a aprovação de um novo estatuto da estatal.

A reserva, pela regra atual, separa recursos para o pagamentos de dividendos futuros, podendo ser usada também para recompra de ações, absorção de prejuízos e incorporação ao capital social. No entanto, há um temor no mercado de que o governo Lula encaminhe uma nova mudança para permitir que essa reserva seja usada para ampliar investimentos.

Segundo o Poder360 apurou, o conselho da maior empresa brasileira ficou dividido em relação à distribuição dos proventos extras aos acionistas. Conselheiros governistas defenderam a retenção dos dividendos extraordinários enquanto os minoritários votaram a favor dos proventos.

Na ocasião, Prates disse ter tentado costurar um meio termo, dividindo os R$ 43 bilhões meio a meio. Metade seria usada para pagamento de dividendos extraordinários e a outra iria para a reserva. No entanto, os conselheiros governistas, indicados pelo Ministério de Minas Energia e pela Casa Civil, foram contra.

Embora a decisão também impacte o caixa do governo, principal acionista da Petrobras, a visão de Lula e de parte do governo é que a estatal deve ser mais uma indutora de desenvolvimento nacional do que uma empresa lucrativa que remunera bem seus investidores. O objetivo do petista é que a petroleira seja um dos motores do crescimento do país em seu 3º mandato.

Oficialmente, a Petrobras diz que o valor destinado à reserva será usado apenas no pagamento de dividendos futuros. Justifica que os investimentos aprovados pela estatal para 2024 e 2025 aumentarão as saídas de recursos da companhia e impactarão os dividendos futuros. Com isso, segundo a diretoria, essa conta de reserva garantiria que os acionistas continuariam recebendo bons proventos nesses anos.

O mercado reagiu negativamente. A Petrobras perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado na 6ª feira, segundo dados do consultor financeiro Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria. No mesmo dia, as ações caíram 10%.