Influencer que morreu após procedimento estético não foi alertada sobre riscos, diz delegada

A influenciadora Aline Ferreira, 33 anos, que morreu na última terça-feira (2) por complicações decorrentes de um procedimento estético nos glúteos, não foi alertada sobre os riscos da intervenção à qual se submeteu.

Foto: UOL Notícias

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A influenciadora Aline Ferreira, 33 anos, que morreu na última terça-feira (2) por complicações decorrentes de um procedimento estético nos glúteos, não foi alertada sobre os riscos da intervenção à qual se submeteu. A informação foi passada nesta quinta-feira (4) pela delegada Débora Melo, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor de Goiás.

Aline passou, no dia 23 de junho, por uma aplicação de polimetilmetacrilato, também conhecido como PMMA, nos glúteos. O procedimento foi realizado na clínica Ame-se, em Goiânia. A dona do estabelecimento e responsável pela aplicação, identificada como Grazielly da Silva Barbosa, foi presa.

“Em nenhum momento [a dona da clínica] esclareceu para a Aline quais seriam realmente os riscos daquela bioplastia de glúteos, ou seja, daquele aumento nos glúteos. Ela simplesmente falou que era um procedimento tranquilo, muito simples, que ela já tinha feito em outros pacientes e o resultado tinha sido ótimo”, disse a delegada.

Segundo as investigações, a influencer não passou por quaisquer exames antes do procedimento. “Quando fazemos fiscalizações em clínicas, é comum que nós apreendamos prontuários de pacientes. Lá [na clínica Ame-se] não tinha prontuário de paciente nenhum. Ou seja, a pessoa simplesmente chegava, pagava, fazia o procedimento e ia embora. Não tinha prontuário de anamnese do paciente para saber se o paciente tinha alguma condição clínica prévia que pudesse gerar algum problema depois do procedimento. Não eram requisitados exames prévios na realização do procedimento.”

Grazielly se apresentava como biomédica. Porém, de acordo com a polícia, ela não tinha formação nessa área. “Ela nunca cursou faculdade de biomedicina. Ela não possui registro no conselho profissional de biomedicina. O que ela nos falou é que ela cursou até o terceiro período do curso de medicina numa faculdade do Paraguai, mas isso há alguns anos.”

A delegada acrescenta que, mesmo que Grazielly fosse, de fato, biomédica, não poderia realizar a aplicação de PMMA.

Infrações cometidas

Débora Melo afirma que, até o momento, já foram constatadas três infrações cometidas pela dona da clínica. A primeira é o exercício ilegal da medicina, pois ela “performa diversos procedimentos que são autorizados apenas para a classe médica”.

A segunda infração, prevista no Código de Defesa do Consumidor, é executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente. “O PMMA, de acordo com a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], só tem aprovação para correções de pequenas distrofias de pessoas que tenham passado por tratamento de poliomielite ou de Aids. Então, a Anvisa não autoriza a aplicação do PMMA para aumento de volume de glúteos”, diz a delegada.

A terceira irregularidade que teria sido cometida por Grazielly foi crime contra relação de consumo. “É proibido induzir o consumidor a erro a respeito da natureza da qualidade dos serviços ou produtos. Ela induzia os consumidores a erro porque dizia ter uma qualificação que ela não tem, porque ela não é biomédica. E em segundo lugar, porque ela não esclarecia para os pacientes os reais riscos daqueles procedimentos que ela estava realizando.”

Além dessas três infrações, a delegada destaca que está em andamento uma investigação para avaliar se houve crime de lesão corporal seguida de morte. “Precisamos esperar a conclusão do laudo pericial em relação à Aline. Porque a certidão de óbito saiu como morte a esclarecer. Então a gente precisa saber se há como comprovar o vínculo entre a morte e o procedimento estético que ela realizou.”