Nesta semana, o Papa Francisco recebeu, no Vaticano, humoristas de diversos lugares do mundo e fez um discurso de muita graça. Claro que no contexto espiritual da expressão, onde a benevolência e o agrado exprimem o sentido.
Dentre tantas coisas ditas, a que mais me marcou foi:
- Mas vocês também conseguem outro milagre: conseguem fazer sorrir mesmo quando lidam com problemas pequenos e grandes fatos da história. Vocês denunciam os excessos de poder; dão voz a situações esquecidas; evidenciam abusos; apontam comportamentos inadequados Lembrem-se disso: quando vocês conseguem fazer com que risos inteligentes brotem dos lábios de até mesmo um só espectador, vocês também fazem Deus sorrir.
Depois disso, passei a sentir muita responsabilidade por pensar que, em momento ou outro, Deus avaliasse minhas piadas, esboçando um sorriso do tipo "humm Gostei, amostradinho ele manda mais" ou um olhar de "nessa você foi ruim. Toma um castigo."
Talvez o TODO-PODEROSO tenha mesmo mais "empatia" com os humoristas porque, para além da missão de levar alegria ao mundo, existe nosso fardo pessoal, exclusivo, de filtrar o caos e o sofrimento para transformá-lo em felicidade ao próximo. É quase uma subversão do próprio mandamento de Deus, pois quando decidimos fazer graça para alguém, mesmo nos sentindo tristes, estamos amando mais o próximo do que a nós mesmos.
O fato é que, por trás da piada, existe muito jejum e oração. Passamos horas a fio, sem comer, sem dormir, no calvário da escrita, sintonizando a mente criativa com a energia criadora, para materializar o cômico e arrebatar o riso, pela catarse. Só para ver a sociedade rindo de si mesma. Um deleite que dá sentido para a alma.
Penso eu que a alegria, a graça, o gozo, são as forças catalisadoras da criação. E que Deus, no fundamento de tudo, tenha dito: Que haja riso!
* Thyago Mourão é ator, humorista e produtor cultural.
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